Deve ser um dos doces mais vendidos nos restaurantes portugueses. Mas poucos lhe conhecem a receita. O RdA tem assim o prazer de apresentar a todos os seus leitores regulares esta receita, absolutamente inédita, de uma das iguarias mais procuradas de todos os tempos: o doce da casa.
Toma-se uma dúzia de ovos. Inteiros com casca e tudo. Podem tomar-se em cápsulas ou em pastilhas. Esta última hipótese é mais fácil de tolerar. Pode-se também, segundo diz a Ordem, aplicar um gel feito à base de ovos inteiros. Mas, avisa a contra Ordem, nesse caso a aplicação corre por conta e risco do aplicante. Ao leitor, pois, caberá a decisão final.
À parte descascam-se doze marmelos (dos grandes) e quatro quilos de peras previamente descascadas (neste último caso, confesso que não sei como resolver o dilema, mas os antigos devem ter resposta para tudo isto... É consutlar os arquivos!)
Mistura-se a polpa do marmelo com as cascas da pera. O dilema adensa-se e o aspirante a cozinheiro começa a suar, as bagas de suor, gordas devem, nesta altura, rolar-lhe espessas pela testa abaixo. Se não rolarem consulte imediatamente um médico.
Depois de previamente macerados o cravinho da Índia, estragão da Antártida e o tomilho de Boca Raton num almofariz, adicionam-se à mistura de polpas de frutas descascadas. O suco das frutas escorre, o suor escorre, o mistério adensa-se.
Adiciona-se agora o açúcar! Afinal é um doce... Quilos e quilos de açúcar que se deverão misturar generosamente com o suor do cozinheiro, que nesta altura já deve também espirrar para cima da mistura de frutas e especiarias por causa da reacção alérgica às especiarias (toda a gente sabe que este cozinheiro é alérgico a quaisquer especiarias). Este é o segredo do doce da casa... Se não espirrar consulte imediatamente um médico.
Entretanto, escamou-se um peixe e duas cobras pitoneiras. As escamas assim obtidas são passadas num "food processor" (sim, que a gente aqui também sabe inglês!) e a pasta obtida é adicionada a pó de argila, cimento, cominhos, salsa muito picada, beringela moída, cascas de tremoços, salsaparrilha, gengibre, aveia moída, morcela da Beira, coentros, centrum +, mais morcela da Beira, amendoa com casca, sem casca, semi-descascada, eu sei lá!, frutas cristalizadas, farrapos de paraquedas de um paraquedista cuja carreira tenha durado pouco, unha de elefante macho, patas de aranha ázima, doses maciças de vitamina C (para prevenção das gripes, já agora!), mosca tsé-tsé em pó, alho porro, alho normal, caspa de orangotango, mais morcela da Beira, queijo ralado, lombos de raia e pelos de ferida de cão.
Junta-se esta mistura à mistura que se obteve anteriormente. Deite mais açúcar. Deite muito açúcar! Caramelo! Melaço! Mel de rosmaninho!! Mais açúcar! Quilos e quilos de açúcar!!! Toneladas de açucar!!!!!!!!
Misture tudo, bem misturado. Repita os movimentos até lhe doer os músculos.
Deita-se tudo no lixo porque isto deve estar uma ganda merda!
NÃO!!!
Espere um pouco. Descanse os músculos. Não deite ainda nada fora. Respire fundo. Reveja as suas posições. Não tome decisões drásticas. Sinta o aroma destes ingredientes. Volte a colocar tudo na mesa de trabalho. A vida de chefe cozinheiro não é sinecura!
Encha agora o número de forminhas que achar necessárias com a mistura atrás obtida.
Leve ao forno.
Depois de cozidos e levemente tostados os bolinhos obtidos devem ser polvilhados com uma mistura de mercúrio e vapores rutilnates (um ingrediente que, como se sabe desde há muito, faz parte de qualquer manual culinário moderno de cozinha fashion...) e servidos muito quentes para fazer cair os dentes o mais rapidamente possível.
Saboreie a doçura deste prato!
Apanhe os dentes, e esses sim!, deite-os fora para um balde.
Tenha calma. Circule pela direita. Assinale sempre as manobras que tenciona executar. Cumpra o Código da Estrada. Faça exercício. Não abuse dos aminoácidos. Abdique dos princípios basilares da civilização ocidental, se e só se, a ingestão deste doce da casa lhe causar uma ligeira azia. Por norma, não deverá sentir nada, mas, se as perturbações que experimentar não forem muito graves, deverá apenas bochechar com ácido sulfúrico.
Tome um Vallium antes de ler...
2007/01/14
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2 comentários:
Mas então e a "Casa" que vem no Doce da Casa? Para
que lados é que fica essa casa que eu gostava de lá
ir (mais que não seja para ver se o Doce é mesmo doce)?
Fica na casa do c.... mais velho! É muito difícil lá chegar. Fica mesmo longe!!!!!
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