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2007/01/16

Novo inédito do RdA

O RdA apresenta a todos os seus fiéis leitores um novo e rigoroso exclusivo. Descobrimos a adega onde é feito o famoso Vinho da Casa.
O Vinho da Casa é um produto da vinha do senhor Camões, ali para os lados da Marinha Grande. Fomos visitá-lo.
Ficámos um pouco chocados, confessamo-lo sem hesitação, por o senhor Camões nos ter recebido, não com uma prova de uma selecção dos seus melhores vinhos, como seria normal, mas sim com uma selecção de refrigerantes e águas. Dizia ele que beber, nem pensar. Faz mal.
Em todo o caso, o senhor Camões falou-nos das origens da vinha da Casa com manifesto entusiasmo e deu-nos a provar o preciso líquido. Que dizer do Vinho da Casa? É um vinho suave, de degustação agradável, com uma queda palatal a incidir, sobretudo, na superfície dorsal da língua, dizem alguns. Ninguém sabe o que isto quer dizer. Aromas fortes a serradura e doce de abóbora.
Dizia-nos o senhor Camões excitadíssimo que a denominação "da Casa" tinha origem no famoso explorador Bartolomeu de la Casa que teria passado por aqui em 1485 à procura de lenha para se queimar. Ficou enamorado pela região e decidiu fixar-se. Montou um negociozito de marisco congelado (na época era mesmo uma inovação!) e lá foi conseguindo singrar. A mulher ajudava-o e os filhos --mais de dezassete-- pelavam-se por trabalhar com o pai. Mas o bichinho da exploração (afinal ele era um explorador!) atormentava-o. Decidiu por isso dedicar-se mais à exploração.
Abandonou o negócio dos congelados e começou a produzir uma bebida feita à base de aparas de madeira provenientes da manutenção do pinhal de Leiria. Nessa altura havia manutenção da floresta. A ideia era fermentar as aparas e produzir assim uma bebida que começou a ganhar notoriedade entre os círculos mais excêntricos da sociedade da Marinha Grande.
Mandou fazer umas garrafas (afinal estava na zona onde elas eram produzidas) e começou a engarrafar o delicioso néctar e a vende-lo, primeiro, nas tascas locais e depois em lojas seleccionadas. Os preços a que o precioso líquido passou a ser vendido tornaram-se proibitivos, mas de la Casa com o afiado sentido de negócio que possuia, decidiu criar um corpo especial de jagunços que obrigavam os locais a consumir o "Vinho do Casa", como era conhecido na altura, sob pena de serem espancados sem piedade. Era uma verdadeira exploração, mas de la Casa era um explorador e por isso havia que fazer jus à sua aura.
É esta, pois, segundo o senhor Camões, a origem deste frutuoso negócio que hoje está um bocado abastardado, é certo (*), mas que mantém em larga medida o seu élan original.


(*) O momento certo em que a bebida passou a designar-se Vinho da Casa (primitivamente era o Vinho do Casa, como referi) não é conhecido com precisão. Terá sido algum cliente certamente, depois de espancado e completamente ébrio que trocou a designação primitiva. De la Casa, diz-se, terá gostado da expressão e adoptou-a como sua marca registada.

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