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2007/04/26

As Fábulas de La Gardère - O urso panda e a chaputa

Estava um urso panda a nadar no charco em pleno deserto do Arizona. A água era escaça, o tempo ameaçava tornar-se ainda mais quente e assim secar a pouca água que restava no charco. O urso desesperava. E nadava! Os sapatos apertavam-lhe os pés, os colarinhos apertavam-lhe o pescoço, um nó apertava-lhe a garganta. Tudo o apertava. Porque andaria ele a nadar, feliz, aparentemente alheio a todos aqueles apertos, indiferente à canícula, porém, atento à onda de calor? Seria efeito da Verdade Incoveniente?
Nisto aparece uma chaputa. A chaputa trazia uma intimação do tribunal arbitral que convocava o urso panda para um julgamento que decorria, à porta fechada, a propósito de um processo de partilha da banda larga.
O urso desconfiou.
Seria a chaputa uma legítima representante do tribunal? Seria a intimação um documento autêntico, selado e assinado pelo juiz? O que estaria uma chaputa a fazer naquele charco, àquela hora, com uma intimação de um tribunal? "Temos de convir," pensou o urso, "que tudo isto é estranho... Isto é uma intimação ou uma intimidação?"
Continuou a nadar por mais algum tempo, fingindo não ver a chaputa. Mas ela insitia! "Ó sr. urso panda! Ó sr. urso panda! tenho uma intimaçãozinha para si! Necessito da sua assintura aqui no protocolo."
O urso começava a estar farto da chaputa.
Deu mais algumas braçadas (desta feita em crawl e com muito estilo) e resolveu sair da água. Enxugou-se cuidadosamente. Foi nessa altura que verificou que a chaputa se tinha sentado ao seu lado, numa cadeira de praia, bebericando um piña colada e assobiando uma canção de verão.
O urso estava impressionado. Mas, o que lhe causava ainda mais fascínio era o facto da chaputa estar ali, fora de água, respirando oxigénio de uma botijas de água oxigenada, deixadas por um pescador submarino desleixado.
O urso, deslumbrado coma aquela cena, voltou a mergulhar, dirigiu-se ao mar e ainda hoje navega em águas turvas.
Moral da história (sim, porque esta tem moral!): a urso não se lhe dá nadar em água de charco. A chaputa que o diga!
Quantos de nós poderemos dizer isso mesmo?

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