Haja dignadade!

5 de Outubro de 2006. Praça do Município de Lisboa. Atmosfera solene. Comemorações do 5 de Outubro. O fervor republicano inunda o ar. Microfones e altofalantes on, câmaras de tv atentas, transmissão directa, o frémito do live à solta! A abrir tão comovente cerimónia, o presidente da Câmara de Lisboa, engenheiro Carmona Rodrigues, o primeiro a debitar discurso, começa por saudar as diversas figuras de Estado presentes... Ele era o excelentíssimo senhor Presidente da República, o excelentíssimo senhor Presidente da Assembleia da República, o excelentíssimo senhor Primeiro Ministro, e por aí fora...! E lá foi o senhor engenheiro despejando, com ar pimpão, a longa lista de luminárias convidadas. A tensão ia, entretanto, crescendo! A expectativa tornava-se insuportável à medida que mais uma "excelência" era acrescentada à lista! Para rematar, voltando-se, com ar grave, para os convidados que se sentavam na tribuna --de sobrolho levemente franzido, como que querendo com isso chamar-lhes a atenção para a seriedade do momento que lhes estaria certamente a passar ao lado-- lança sobre eles esta frase lapidar: "... e restantes dignatários!"
Como diria o meu primo Aurélio, "ora aí está como é!!"
Dos visados "dignatários", que com um ar cheio de "dignadade" ocupavam o centro de tão nobre palco, se espera que o respectivo estômago tenha dado uma pequena volta higiénica. O seu semblante não os traiu. Manteve-se imperturbável, em pose estatal, como seria de esperar.
Ou então...