
Raia de Alhada- Zidane, antes de mais obrigado por conceder esta entrevista ao Raia de Alhada. É com muita honra e satisfação que o entrevistamos... [Zidane dá neste momento uma estalada na senhora do balcão que imediatamente vai fazer um chá para minorar o inchaço...] para podermos conhecer qual é afinal a verdade sobre os acontecimentos... [dá-lhe agora um pontapé na cabeça! É com uma grande ansiedade que vamos tentar continuar a nossa entrevista...]. Você poderia contar aos leitores do RdA como inciou a sua carreira?
Zidane- Bom, eu comecei como aprendiz de pintor de louça de Limoges. Era eu que compunha todos aquelas delicados motivos florais que distinguiram esta louça durante séculos.
RdA- Durante séculos...?
Z- Sim, eu não pareço mas tenho 443 anos. A minha mãe, que está agora infelizmente retida no leito de hospital, tem 675. A minha irmã mais velha anda pelos 500, não sei ao certo porque já perdi a conta. Sei, isso sim, que, aqui há pouco tempo, um dos bolos de aniversário dela ia causando um incendio de proporções assustadoras lá no quartier...
RdA- Ó Zidane, você desculpe, mas está-me a dizer que tem 443 anos?!
Z- [erguendo os punhos] Mas, está a duvidar?!!!
RdA- Ó Zidane, de maneira nenhuma! É que você parece muito mais novo [risos]! Ninguém lhe dá mais de 30...
Z- Isso é por causa do couscous! Na nossa família come-se muito, muito couscous e isso, já se sabe, contém imenso ácido glicólico e hidróxido alfa que são excelentes retardantes do processo de envelhecimento cutâneo.
RdA- Ah, sim... Pois bem, depois do seu trabalho em Limoges o que aconteceu?
Z- Não, eu ainda trabalho em Limoges! Vou lá duas vezes por semana, mas só à tarde.
RdA- Mas mantém outras actividades?
Z- Sim, pratico badmington e pelota basca... Aos sábados é que vou dar banho a velhinhos na paróquia...
RdA- Não, referia-me a actividades profissionais...
Z- Ah, claro! estou empregado num salão de corte de cabelo unisexo e passo muito tempo em contemplação da minha beleza interior. Tenho um aparelho daqueles de endoscopia e um outro --esse é o meu preferido!-- de cólonescopia. Mas tenho também um de ecografia e um Raio X privativo. Mas esses não são tão bons porque não vejo o interior directamente, percebe?
RdA- Estou a ver. Então e que mais tem você feito?
Z- Olhe, no domingo fui com uns amigos apanhar borboletas. Ah!, o que eu gosto de apanhar borboletas... Estava uma brisa muito suave. Eu e os meus amigos vestidos de cores pastel, uma suave música de harpa em fundo... Olhe parecia um quadro de Renoir. Mas, com música!
RdA- Parece perfeito e idílico tudo isso. Mas, profissionalmente, você tem outras actividades?
Z- Não percebi a pergunta [franze o sobrolho com ar grave]...
RdA- Quer dizer, tem outras profissões, outras actividades que lhe permitem ganhar dinheiro para o sustentar a si e à sua família?
Z- Ah, claro! Eu agora faço muito renda de bilros para fora! A maior parte das vezes é mesmo para exportação. Mas, essa actividade --que eu faço ainda com muito gosto [Zidane pronuncia esta palavras com óbvio enlevo]-- está-se a tornar impossível agora que me dedico quase exclusivamente à dança de salão, em especial ao tango.
RdA- Bom, Zidane, mas poderá explicar aos nossos leitores: quem é afinal você?
Z- Olhe, eu sou um rapaz simples. Gosto de coisas simples. Não cometo excessos, até porque a minha religião o proíbe. Como sabe eu sou Adventista do Sétimo Selo, uma igreja que foi fundada pelo realizador sueco Ingmar Bergman para comemorar o aniversário da sua filha Ivone. Você havia de ter visto a festa de inauguração da Igreja. Aquilo foi lindo! Ela soprou as velas, cantaram-se hinos do Sétimo Selo, jogou-se às charadas e à apanhada. Jogos inocentes, percebe? Bergman emocionou-se, e chorou! A todos veio uma lágrimita ao canto do olho nessa altura.
RdA- Há muito que frequenta a Ervanária do Largo da Anunciada?
Z- Sim, há 337 anos? Vinha cá antes com um tio, mas ele deixou de tomar estes chás porque dizia que lhe faziam gases.
RdA- E cinema, tem visto alguns filmes interesssantes?
Z- Como lhe disse, eu sou membro da Igreja Adventista do Sétimo Selo e nós somos obrigados, por contrato, a ver o filme pelo menos uma vez ao dia. Tirando isso, vi agora um filme da filha do Coppola de que gostei muito e adorei!, adorei!! [vibra imenso] o último do Robbin Williams!
RdA- Resta-me agradecer-lhe Zidane a gentileza que teve em conceder esta entrevista ao RdA. Desejo-lhe os maiores sucessos na sua carreira de condutor de autocarros da linha 38, que eu sei que vai iniciar depois do Verão.
Z- Eu é que agradeço.
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