Tome um Vallium antes de ler...

2006/06/20

Uma vida exemplar foi agora distinguida

Sub título: "S. Bartolomeu de Messines-a reflexão necessária"

O superior da Ordem dos Engenheiros encontrou-se com o Bastonário dos Dominicanos. Foi tudo à estalada!
Bartolomeu, de alcunha o Bárbaro, era já, ainda criança, um rebelde. Um irascível! Um rebelde com E grande! Um rebElde, portanto. A sua natureza esquiva levou-o a evitar expor-se. Não tirava o pijama. Não comia a sopa. Não tirava sequer as meias. Não pagava as portagens. Tirava macacos do nariz. Os pais avisavam: “Vais ficar com umas narinas dilatadíssimas!” Bartolomeu encolhia os ombros.
Mas, não eram só os ombros de Bartolomeu que encolhiam no lar dos Bárbaros. Por essa altura, o pai, arrumador de carros nas Amoreiras, tentava em vão aprender a preencher boletins do totoloto. Nunca conseguiu fazer as cruzinhas da forma regulamentar de modo que os seus boletins eram sistematicamente rejeitados pelo júri das Apóstas Mútuas. Acabou por, frustrado, dedicar-se à contemplação pura. Bartolomeu, esse, decidiu: iria dormir, não sem antes comer uma lata de atum de conserva. Estava decidido! E firme! Levou a cabo essa tarefa com a determinação de um comboio que demanda a próxima estação (esta imagem não é particularmente feliz, mas foi o que se pôde arranjar...). Comeu a lata. Adormeceu.

Tortozelo era nesse tempo um antro de bandidos de estrada. Todos aqueles que iam roubar para a estrada passavam forçosamente por Tortozelo. Estavam lá todos.
Bartolomeu, dizia-se na época, passava por eles e cuspia no chão. Um dia cuspiu pela última vez. A Junta de Freguesia de Tortozelo emitiu um despacho especial que proibia explicitamente Bartolomeu de cuspir. “Resta-lhe ir cuspir para outra freguesia,” rezava o despacho. Bartolomeu, vexado e desiludido com os seus conterrâneos de Tortozelo emitiu mais tarde um comunicado: “Desenganem-se aqueles que me querem prejudicar. Não me hão-de estragar o futuro! Irei mesmo cuspir para outra freguesia!!”, referia-se, nomeadamente, nesse comunicado. E foi. Partiu para Messines, nessa altura uma, fulgurantemente, próspera vila do pé da serra. Era agora um emigrante.

Permaneceu em Messines até ao fim dos seus dias, cuspindo no chão, cuspindo para o ar, sempre profissional. Tentou mais tarde cuspir em cima das pessoas. Tentou mesmo algumas freguesias vizinhas. Foi um sucesso! As gentes de Messines e da região vizinha aclamavam-no em delírio. O povo, em êxtase, gritava: “Cospe-me em cima! Bartolomeu! Cospe-me em cima!”
Bartolomeu mal tinha agora tempo para todas as solicitações. De todo o lado lhe chegavam apelos para cuspir. Cuspia com enorme desenvolvtura.
Um dia secou-se-lhe a saliva.

Bartolomeu teve um triste fim. Em Messines. É este Bartolomeu que será agora homenagenado pelos mais altos dignitários da Igreja Evangelista da Sagração da Primavera. Uma evocação de autoria do próprio Stravinsky será executada na ocasião, em estreia, rigorosamente, mundial. Uma homenagem dos que sempre o amaram. Dos que sempre o apoiaram. Dos que sempre o adularam e agora perderam esta figura de referência.
(desculpem mas agora estou comovido...!)

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito tocante esta elegia e muito merecida! Eu fui um devoto do S. Bartolomeu e contei-me (e ainda me conto) entre os que lhe encorajaram as primeiras cuspidelas, débeis e juvenis, é certo mas já mostrando uma certa gosma, um je-ne-sai-quoi que tomamos todos como pronuncio de futuras lagostas bem chorudas. Ainda guardo em casa uma que me
dedicou e que esquivei com alguma perícia tendo ido aterrar num conterrâneo de quem não reza a história. )A propósito: a quem reza a história cquando reza? A Deus, Jeová ou Mahomé? Mas divago: o importante é
que tenho lá em casa a cuspidela do Bartolomeu antes de se ter beatificado. Agora sempre a posso pôr no e-Bay e fazer uma pipa de massa!

Marco de Sacanavezes.

inkisitor disse...

Meu Caríssimo Marco:
Uma relíquia portanto. Podemos iniciar um culto. Talvez organizar uma procissão. O Vaticano irá certamente exultar! (exultar! digo bem! exultar!!)
Um seu devoto.
Inkisitor



(PS- Quanto à divindade a quem reza a história deve ser a S. Cedofeito. Um santo que já estava, antes mesmo de o estar...)