O taser, a Manuela e os barões assinalados

Manuela quer seis meses de nojo. Ferreira quer pôr tudo na ordem. Leite quer submeter-se ao sufrágio universal. 

É uma das primeiras manifestações da nova doença: a esquitrizofrenia. A psicose do século, dizem os especialistas. Uma cisão. O paciente debate-se entre três mundos. Entre três.

Fruto do stress, dizem também os especialistas. Fruto da época. Época baixa. Baixa por doença. A doença: esquitrizofrenia. Seis meses, não menos. Nem um dia a mais. Repouso absoluto. Luz coada. Quarto com paredes almofadadas. Colete de forças. Alimentação por via intravenosa. Medicação controlada. Tranquilizantes. Muitos. Tudo irá correr bem. Família ansiosa. Médicos devotados. Enfermeiros atentos. Video vigilância. 24 sobre 24 horas.  Acorrentada à cama, se necessário. Visitas rigorosamente controladas.

Atenção ao delírio!  

"- Seis meses! Só seis meses!" Ouve-se o grito pelos corredores. 

"- Tá bem, porra! Toma lá mais esta pírulazinha com uma cor tão gira. Abre a boquinha, vá!"

"- Seis meses! Só seis meses!! Peço-vos!!"

Um enfermeiro grita: "- Tragam o taser que isto 'tá a ficar fora de controlo!!"

Alguém vai buscar o taser. A tensão aumenta. O taser é disparado. Manuela começa a desfalecer. Enquanto nos afastamos ainda conseguimos ouvir:

"- A Néné não quer pírula! A Néné não quer taser! Seis meses! A Néné é que é a presidente!!"

Cai o pano. Na pior nódoa. Seis meses é muito tempo.